IGREJA GRANADA
Os projetos começam muito antes dos arquitetos entrarem no processo, são gestados pelos futuros clientes, alimentados até atingirem uma maturidade em que é possível se deslocar do plano dos sonhos para uma abstração da materialidade física, a qual chamamos de projeto de arquitetura. O processo deste projeto não foi diferente, mas o que é interessante contar é como essa gestação continha em si a essência do que o espaço criado se propõe a propagar.
Ficha Técnica
Ano: 2021
Local: Nova Granada - São Paulo
Autor: Homã Alvico
Sistema Construtivo: Alvenaria de Tijolos Maciços e Estrutura Metálica.
Materiais: Tijolo de Barro e Estrutura Metálica.
Fotografia: Julia Novoa
Durante o processo de projeto foi objeto de pesquisa os valores essenciais de um cristianismo primitivo.
Conhecer as metáforas e alegorias bíblicas que utilizam de elementos materiais para explicar relações metafísicas ou espirituais e de alguma forma trazer estes símbolos materiais nas paredes, chão e teto, tornando o espaço um cenário narrativo.
Conceitualmente foi buscado o dualismo entre terra e céu, corpo e espírito, matéria e luz, opacidade e transparência separados por base e cobertura.
O programa de projeto era bastante sucinto; um salão para cerca de 70 pessoas, banheiros e um pequeno escritório.
O desafio maior foi desenvolver uma implantação que desse conta espacialmente desta escala em um terreno de esquina de apenas 153m², medindo 8,5m por 18m de comprimento que fosse gentil urbanisticamente falando.
Não apenas servindo aos membros da igreja, mas aos habitantes locais também, não queríamos inaugurar mais um paredão para a calçada, ou reduzir o cone visual da esquina.
vista isométrica
implantação
planta baixa
corte longitudinal
corte transversal
perspectiva explodida
Para a materialidade da base foi utilizado tijolos maciços de barro, que biblicamente representa o corpo em diversas passagens, citando duas delas, onde a primeira fala sobre a criação do homem, e a segunda sobre a figura de Deus como oleiro:
“E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente.” Gênesis 2:7
“Mas agora, ó Senhor, tu és nosso Pai; nós o barro e tu o nosso oleiro; e todos nós a obra das tuas mãos.” Isaías 64:8
Nas escrituras bíblicas, deste encontro entre barro e sopro se forma a vida. Para a concepção da cobertura buscamos trazer leveza, luz e imaterialidade, para tanto utilizamos treliças e telhas isotérmicas metálicas, ambas com pintura branca.
O telhado tem captação central de água por uma grande calha em aço corten, o contraste entre a cor escura da calha e a superfície branca da cobertura cria um destaque para este elemento longitudinal que se encontra transversalmente com as treliças, formando uma abstração da cruz, símbolo do evangelho, de uma forma sutil.
A calha pluvial em corten deságua em um tanque circular de mesma materialidade, gerando uma queda d’água visível, audível e tocável, sendo a água também um elemento recorrente na bíblia.
“Aquele, porém, que beber da água que Eu lhe der nunca mais terá sede. Ao contrário, a água que Eu lhe der tornar-se-á nele uma fonte de água jorrando para a vida eterna.” João 4:14
Desenvolvemos aberturas em todo o perímetro superior da Igreja, fazendo com que o ar entre através da porta de entrada e o ar quente saia pelas aberturas das janelas superiores, resultando em melhores resultados de ventilação, insolação e luminosidade.